sexta-feira, 27 de maio de 2016

OS Maias: Útima Carta de Afonso da Maia ao seu Neto, Carlos da Maia


Última carta de Afonso da Maia a Carlos da Maia

Ramalhete, 19 de outubro de 1875

Carlos, meu neto,

Escrevo-te esta carta porque não me tenho sentido muito bem e ambos sabemos que já sou velho e que tenho o coração debilitado. A maior razão desta carta não é para te dizer isto, mas, sim, para esclarecer certas coisas, Carlos.

Meu neto, tu sabes que eu te amo muito. Sei que fui rígido, às vezes, mas fazia tudo parte da tua educação. Tu eras e, apesar de tudo, continuas a ser a minha esperança para que esta família continue presente no mundo. Mas, Carlos, esta é a hora de ser rígido novamente. Eu dei-te a melhor educação, eu dei-te valores e princípios, eu ensinei-te a ser um cavalheiro, mas não posso deixar de dizer que me desiludiste muito nestes últimos tempos.

Eu sabia que andavas perdido de amores por uma senhora, eu sei que passaram o verão juntos e estava feliz por ti, meu neto, muito feliz, mesmo, esperava apenas que me viesses falar dela, o que, simplesmente, nunca aconteceu. Até que, há uns dias, vieste procurar-me, mas, infelizmente, os motivos não foram os melhores. E o pior é que não contaste toda a verdade.

Eu sei que pensas que eu desconheço que a minha neta, que descobrimos  há muito pouco tempo que o é, é também a mulher por quem estás apaixonado, mas, Carlos, eu sei que é a mesma mulher e é ai que eu, o teu avô, a tua única família, estou desiludido contigo.

E, Carlos, não é por teres tido um caso com esta mulher de nome Maria Eduarda que eu estou desiludido, porque todos temos o direito de ter tais casos e tais paixões. Mas a razão desta minha tristeza é por não teres acabado com o caso, pois continuas a ir ter com ela, tu dormiste com ela mesmo depois de saberes toda a verdade. Deves estar a perguntar como é que eu estou a par dos teus encontros, mas posso dizer-te que mandei uma pessoa atrás de ti. Sim, Carlos, eu tive que chegar a isto. Ao que tu me fizeste chegar, Carlos! Mas teve que ser, pois, por mais que eu perguntasse ao teu amigo Ega, ele desmentia tudo e protegia-te. É normal, ele é teu amigo e, por isso, mantêm-no sempre por perto, meu neto, sempre por perto, porque amigos como ele há poucos.

Eu acho que tu não percebes a dor que me causas. Eu já vivi tanto, já sofri tanto e enfrentei tantas coisas, mas nenhuma foi tão difícil como esta. Tu tens um caso com a tua irmã! Eu sei que também não sabias, mas, mesmo depois de o saberes, tu continuas a encontrar-te com ela. Isso é incesto, Carlos, incesto! E é aí, Carlos, que tu me desiludes. Eu não te ensinei a seres imoral, esta não foi a educação que te dei. Carlos, eu sei que todos os homens erram, mas este teu erro podia ter sido evitado.

E este teu velho avô está mesmo magoado contigo. Não só pelo erro que cometeste mas também por me teres escondido tudo, por teres preferido mentir-me em vez de me contares a verdade e acredita que saber das coisas como soube foi muto pior.

Mas Carlos, nós havemos de ultrapassar isto. E eu amo-te tanto, meu neto, tanto. E este velho, que já passou por ventos e tempestades, não se sente mesmo nada bem, não sei se é da velhice ou da mágoa. Repito, Carlos, o teu velho avô não se sente nada bem…

Teu avô: Afonso da Maia

 


 Rafaela Dias, 11ª E1 nº16

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