sexta-feira, 20 de maio de 2016

Os Maias: página de diário de Maria Eduarda




Lisboa, 2 de maio, de 1877
 Meu caro confidente



O infortúnio chegou hoje à minha vida, de uma forma violenta e arrebatadora. Veio na forma de uma missiva e de um cofre que encerrava, além das minhas origens, todo um desfazer de um sonho e de um projeto de vida no qual depositei todo o meu amor e força.
Carlos, o meu grande amor, desiludiu-me porque tudo aquilo que eu pensava que ele personificava, nomeadamente os valores da honradez, romantismo e luta contra o preconceito, desapareceram e ele tornou-se, aos meus olhos, num homem fraco e sem  escrúpulos morais.
Como foi ele capaz de continuar esta relação amorosa depois de saber que é… (nem sequer tenho coragem para verbalizar a palavra)? Não terá ele herdado nenhum tipo de dignidade de Os Maias?
De tudo isto, o que mais me repugnou foi o incesto consciente no qual ele me fez participar inocentemente. Começo a pensar se tudo o que nos aconteceu não fará parte da desgraça e fatalidade associadas à família Maias, à qual, no final de contas, eu pertenço.
Além de tudo isto, humilha-se enviando-me dinheiro, pensando que, assim, faz desaparecer todas estas adversidades que ele não soube enfrentar como o grande homem de elite burguesa à qual ele se orgulha de pertencer. Eu que lhe disse, nos nossos passeios de caleche, que ele me conhecia tão pouco e, afinal, eu é que não o conhecia a ele!
Digo-te, caro confidente, amanhã parto para Paris e levo comigo a minha Rosa, na esperança de que a sua meninice, ânsia de vida e alegria me acompanhem nesta viagem.  Espero  vir a transmitir-lhe valores educacionais que a façam ser uma dama respeitada, independente e com formação escolar, para, assim, não depender de nenhum homem para viver.
O mundo está a mudar e, neste final do século XIX, escolho a cidade da cultura e da vanguarda, ,na expetativa de encontrar uma sociedade sem preconceitos, onde o apelido Maias não seja reconhecido facilmente.
Tentarei, a todo custo, afastar a minha Rosa das inevitabilidades do destino, que tanto me prejudicaram.
Assim, meu caro confidente, espero voltar a escrever rapidamente, nestas tuas páginas, relatos felizes e inspiradores de alguém que voltou a acreditar que o mundo é um local privilegiado para aprender a arte de ser feliz, e de amar, mesmo sendo um Maia.

                                                   
                                                              Maria Eduarda

                                                    Sara Ferraz, 11º E1

 

1 comentário:

  1. As atividades escritas propostas estão afinal a dar conta das interessantes experiências de leitura dos alunos. Continuem a partilhar essas experiências.

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