O infortúnio chegou hoje à minha vida, de uma forma violenta e
arrebatadora. Veio na forma de uma missiva e de um cofre que encerrava, além
das minhas origens, todo um desfazer de um sonho e de um projeto de vida no
qual depositei todo o meu amor e força.
Carlos, o meu grande amor, desiludiu-me porque tudo aquilo que eu
pensava que ele personificava, nomeadamente os valores da honradez, romantismo
e luta contra o preconceito, desapareceram e ele tornou-se, aos meus olhos, num
homem fraco e sem escrúpulos morais.
Como foi ele capaz de continuar esta relação amorosa depois de saber
que é… (nem sequer tenho coragem para verbalizar a palavra)? Não terá ele
herdado nenhum tipo de dignidade de Os
Maias?
De tudo isto, o que mais me repugnou foi o incesto consciente no qual
ele me fez participar inocentemente. Começo a pensar se tudo o que nos
aconteceu não fará parte da desgraça e fatalidade associadas à família Maias, à
qual, no final de contas, eu pertenço.
Além de tudo isto, humilha-se enviando-me dinheiro, pensando que,
assim, faz desaparecer todas estas adversidades que ele não soube enfrentar
como o grande homem de elite burguesa à qual ele se orgulha de pertencer. Eu
que lhe disse, nos nossos passeios de caleche, que ele me conhecia tão pouco e,
afinal, eu é que não o conhecia a ele!
Digo-te, caro confidente, amanhã parto para Paris e levo comigo a
minha Rosa, na esperança de que a sua meninice, ânsia de vida e alegria me
acompanhem nesta viagem. Espero vir a transmitir-lhe valores educacionais que
a façam ser uma dama respeitada, independente e com formação escolar, para,
assim, não depender de nenhum homem para viver.
O mundo está a mudar e, neste final do século XIX, escolho a cidade da
cultura e da vanguarda, ,na expetativa de encontrar uma sociedade sem
preconceitos, onde o apelido Maias não seja reconhecido facilmente.
Tentarei, a todo custo, afastar a minha Rosa das inevitabilidades do
destino, que tanto me prejudicaram.
Assim, meu caro confidente,
espero voltar a escrever rapidamente, nestas tuas páginas, relatos felizes e
inspiradores de alguém que voltou a acreditar que o mundo é um local
privilegiado para aprender a arte de ser feliz, e de amar, mesmo sendo um Maia.
Maria Eduarda
Sara Ferraz, 11º E1
As atividades escritas propostas estão afinal a dar conta das interessantes experiências de leitura dos alunos. Continuem a partilhar essas experiências.
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