terça-feira, 31 de maio de 2016

Carta de Pedro da Maia a Afonso da Maia

Querido pai

            Gostava de me poder despedir de ti com dignidade, por exemplo partindo numa viagem para a América, mas sou fraco demais! Eu quero que as coisas corram sempre à minha maneira e, quando isso não acontece, deixo-me sucumbir e tenho dificuldade em levantar-me. Falta-me o amor da mãe, que partiu já há alguns anos… Gostava de a ter aqui… Seria tudo muito mais fácil, pois ela era o meu porto de abrigo… Sinto tanto a falta dela! Mas isso hoje acaba, porque vou ao encontro dela e ficarei com ela no paraíso, junto de Deus, num lugar onde não existe maldade, traição, mentira ou deslealdade.
A partir de hoje, já não tens que te envergonhar mais da minha existência, por eu ser a vergonha da família, aquele que ousou desafiar o pai e partiu com aquela a quem davam o nome depreciativo de “negreira”.
Gostava de não te ter contrariado, de ter sido o teu filho bem-amado! Devia ter-te dado ouvidos, pois sabes mais da vida do que eu! Se o tivesse feito, não estaria, agora, a sofrer desta maneira. Devia ter crescido forte, como tu, mas a minha mãe não o permitiu, pensando que, assim, afastaria de mim os males do mundo, como se fosse possível resguardar-me numa redoma protetora.
Se alguma vez encontrares Maria, diz-lhe que cometeu o seu maior erro… E diz à mais pequena que a amo… Agora, pai, quero-te pedir que cuides do meu Carlos, o meu único filho. Dá-lhe uma educação rija, forte, de maneira a superar qualquer obstáculo. Essa educação eu nunca saberia dar-lha, por isso parta descansado, deixando-o ao teu cuidado.
Despeço-me de ti com muito amor, sabendo que conseguirás superar mais esta dor, porque tens o teu neto amado, que irá crescer junto de ti com muito vigor.

Do teu filho que te ama muito
Pedro da Maia


Elvira Virlan, 11º E 1






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