Querido pai
Gostava
de me poder despedir de ti com dignidade, por exemplo partindo numa viagem para
a América, mas sou fraco demais! Eu quero que as coisas corram sempre à minha
maneira e, quando isso não acontece, deixo-me sucumbir e tenho dificuldade em
levantar-me. Falta-me o amor da mãe, que partiu já há alguns anos… Gostava de a
ter aqui… Seria tudo muito mais fácil, pois ela era o meu porto de abrigo…
Sinto tanto a falta dela! Mas isso hoje acaba, porque vou ao encontro dela e
ficarei com ela no paraíso, junto de Deus, num lugar onde não existe maldade,
traição, mentira ou deslealdade.
A partir de hoje,
já não tens que te envergonhar mais da minha existência, por eu ser a vergonha
da família, aquele que ousou desafiar o pai e partiu com aquela a quem davam o
nome depreciativo de “negreira”.
Gostava de não
te ter contrariado, de ter sido o teu filho bem-amado! Devia ter-te dado
ouvidos, pois sabes mais da vida do que eu! Se o tivesse feito, não estaria,
agora, a sofrer desta maneira. Devia ter crescido forte, como tu, mas a minha
mãe não o permitiu, pensando que, assim, afastaria de mim os males do mundo,
como se fosse possível resguardar-me numa redoma protetora.
Se alguma vez
encontrares Maria, diz-lhe que cometeu o seu maior erro… E diz à mais pequena
que a amo… Agora, pai, quero-te pedir que cuides do meu Carlos, o meu único
filho. Dá-lhe uma educação rija, forte, de maneira a superar qualquer obstáculo.
Essa educação eu nunca saberia dar-lha, por isso parta descansado, deixando-o
ao teu cuidado.
Despeço-me de
ti com muito amor, sabendo que conseguirás superar mais esta dor, porque tens o
teu neto amado, que irá crescer junto de ti com muito vigor.
Do teu filho que te ama muito
Pedro da Maia
Elvira Virlan, 11º E 1
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