Cara amiga Carolina
Madeira
Olá, Carolina, há quanto
tempo!
Não consegui
responder-te por mensagem, pois perdi o teu número de telemóvel, pelo que irei
responder-te através desta carta, visto ainda ter a tua morada apontada no meu caderninho
do nono ano.
Respondendo à tua
pergunta sobre o que achei do romance “Os Maias”, digo-te que te vais
surpreender. Sendo que és um ano mais nova que eu, compreendo perfeitamente a
tua curiosidade, pois eu também a tinha, quando estava no décimo ano.
Quando me disseram
que tinha de ler essa obra, eu não me assustei, até ver o tamanho dela. Pensei
que me fosse aborrecer e entediar, por isso fiz como tu e perguntei a opinião
de quem já a tinha lido e acreditas que me disseram que não ia gostar?
Disseram-me que era muito grande, muito cansativa, muito monótona, etc. Claro
que os gostos dependem de cada pessoa em particular, mas não vejo o que possa
aborrecer tanto as pessoas nesta obra tão rica em cultura e em História, a
nossa História. Não te digo isto para que eu te pareça uma pessoa extremamente
culta, que adora ler, ou para que penses que o romance é fácil de interpretar
porque não o é, é uma história complexa, mas apaixonante. Sou suspeita a falar,
pois sabes que adoro histórias de amor, mas esta obra é mais do que uma simples
história romântica.
Quando estiveres
a ler o livro do grande Eça de Queirós, vais estar literalmente a viver aquele
tempo, aqueles cenários, aquelas paisagens, todas aquelas vestes maravilhosas
com folhos e adornos que fazem das mulheres autênticas princesas e dos homens
cavaleiros encantados, retirados de contos de fadas. Cada palavra que o
escritor acrescenta a cada frase, cada adjetivo, cada pormenor faz com que a
imagem que tens do que estás a ler seja tão nítida e tão vívida que parece
realidade. É um retrato da alta sociedade portuguesa com tudo o que ela tem de
bom como: os luxos, as vantagens, as facilidades, as festas, os romances
proibidos, as casas glamorosas altamente decoradas, as riquezas dos fatos e dos
objetos. Contudo, mostra também o que a sociedade tem de mau, como as futilidades,
o gosto pelas aparências, as falsidades a que as pessoas recorrem para serem
bem vistas, as traições, o adultério e tantos outros aspetos. É um retrato
verdadeiro, que não quer apenas mostrar o mundo fantástico e romântico daquele
tempo, mas a realidade. E o mais interessante nisto tudo é que, apesar de
começares a ler a obra com um certo distanciamento, à medida que lês apercebes-te
que muitos dos problemas da época permanecem na atual sociedade portuguesa e
começas a identificar-te.
Para além de
toda esta carga cultural, tens a maravilhosa paixão entre duas pessoas. Esta
história desenvolve-se em volta de uma família de homens, “Os Maias”, que
habitam numa casa apalaçada (exatamente como tu gostas): “O Ramalhete”. A
personagem principal, Carlos da Maia, é um médico elegante, inteligente,
motivado pela energia da idade, que se vem a envolver num romance proibido. Será
que ela é casada? Será que ela é mais nova que ele? Será que os pais não o
permitem? Ela é uma mulher linda, culta, bem-educada, bem arranjada, elegante…
e mais não digo!
Eu também estava desconfiada e achei que não ia
gostar, mas foi uma ótima experiência e, conhecendo-te como te conheço, e acho
que não deves ter mudado muito, penso, verdadeiramente, que vais gostar e
aconselho-te a lê-la.
Boa leitura e um grande beijinho
Sem comentários:
Enviar um comentário