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no diário de Carlos
Querido aliado mudo,
Hoje o dia passou excessivamente devagar. Após
ter descoberto que a minha deusa, a minha musa e minha amada, iria passar uns
dias com o marido e Dâmaso em Sintra, não resisti! Tive de arranjar um pretexto
para tentar ver aquela linda mulher, com um corpo maravilhoso, com os olhos de
um negro profundo e de um cabelo castanho, quase loiro, à luz.
Convidei
Cruges, melhor, tomei imediatamente como certo que ele viria comigo a Sintra.
Após alguns contratempos, que acabaram por atrasar a viagem mais do que deviam
ter atrasado, saímos com destino a Sintra. Acabámos por parar na Porcalhota,
porque Cruges só queria saciar a sua fome e, assim sendo, saboreou, ou melhor, devorou
o famoso coelho guisado.
Enquanto não chegávamos a Sintra, os únicos
pensamentos a navegar pela minha cabeça eram os de rever aquela linda figura
que vi passar no Aterro. Nada mais conseguia preencher o meu pensamento e esse
meu desejo deixava-me ansioso.
Após a chegada a Sintra, eram horas de
encontrar um alojamento. Cruges tinha o desejo de ficar no hotel Lawrence, mas eu assumia que a mulher
que eu estava ansioso por rever estava hospedada nesse mesmo hotel, com o seu
marido e os demais por quem se fazia acompanhar. Por essa mesma razão, para não
parecer um perseguidor, preferi hospedar-me no hotel Nunes, onde eu já tinha
ouvido dizer que se comia muito bem, e utilizei esse argumento para persuadir
Cruges.
Para minha surpresa, encontrámos duas caras
conhecidas no Nunes, Eusebiozinho e Palma Cavalão, num prazenteiro convívio com
duas ‘acompanhantes de luxo’. Foi um momento engraçado, durante o qual nos
regozijámos de ver Eusebiozinho a afogar-se mas suas próprias morais.
Pela tarde, sugeri dar um passeio por Seteais,
na esperança de rever a minha deusa. No entanto, encontrámos apenas Tomás de
Alencar, o nosso querido poeta romântico, que se disponibilizou a fazer de novo
o caminho que trazia, para nos poder acompanhar. Continuando ansioso por não
ter a sorte de observar aqueles olhos negros que me traziam vencido, ainda
assim não queria deixar que o meu estado de perturbação afogasse todas as minhas
esperanças. Não a tendo visto em Seteais, retornei, então, à Lawrence, mas tudo
o que eu obtive foram más noticias: a família Castro Gomes tinha partido para
Mafra para depois voltarem a Lisboa.
Nessa altura, sim, eu fiquei vencido, pois
todo o trabalho que tivera para rever a minha diva não serviu de nada. O meu
sentimento de saudade e de mágoa ia tomando forma no meu corpo, acabando por
preenchê-lo totalmente, e eu só queria voltar ao Ramalhete, pois daí seria mais
fácil reencontrar aquela figura linda, de olhos negros, que me mantinham cativo
desde a primeira vez em que fui surpreendido pela sua encantadora visão.
Carlos da Maia
Juliana Pereira, 11º E1
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