segunda-feira, 30 de maio de 2016

Desabafo de Carlos sobre a sua ida a Sintra

Página no diário de Carlos

Querido aliado mudo,
             Hoje o dia passou excessivamente devagar. Após ter descoberto que a minha deusa, a minha musa e minha amada, iria passar uns dias com o marido e Dâmaso em Sintra, não resisti! Tive de arranjar um pretexto para tentar ver aquela linda mulher, com um corpo maravilhoso, com os olhos de um negro profundo e de um cabelo castanho, quase loiro, à luz.
            Convidei Cruges, melhor, tomei imediatamente como certo que ele viria comigo a Sintra. Após alguns contratempos, que acabaram por atrasar a viagem mais do que deviam ter atrasado, saímos com destino a Sintra. Acabámos por parar na Porcalhota, porque Cruges só queria saciar a sua fome e, assim sendo, saboreou, ou melhor, devorou o famoso coelho guisado.
             Enquanto não chegávamos a Sintra, os únicos pensamentos a navegar pela minha cabeça eram os de rever aquela linda figura que vi passar no Aterro. Nada mais conseguia preencher o meu pensamento e esse meu desejo deixava-me ansioso.
             Após a chegada a Sintra, eram horas de encontrar um alojamento. Cruges tinha o desejo de ficar no hotel Lawrence, mas eu assumia que a mulher que eu estava ansioso por rever estava hospedada nesse mesmo hotel, com o seu marido e os demais por quem se fazia acompanhar. Por essa mesma razão, para não parecer um perseguidor, preferi hospedar-me no hotel Nunes, onde eu já tinha ouvido dizer que se comia muito bem, e utilizei esse argumento para persuadir Cruges.
             Para minha surpresa, encontrámos duas caras conhecidas no Nunes, Eusebiozinho e Palma Cavalão, num prazenteiro convívio com duas ‘acompanhantes de luxo’. Foi um momento engraçado, durante o qual nos regozijámos de ver Eusebiozinho a afogar-se mas suas próprias morais.
             Pela tarde, sugeri dar um passeio por Seteais, na esperança de rever a minha deusa. No entanto, encontrámos apenas Tomás de Alencar, o nosso querido poeta romântico, que se disponibilizou a fazer de novo o caminho que trazia, para nos poder acompanhar. Continuando ansioso por não ter a sorte de observar aqueles olhos negros que me traziam vencido, ainda assim não queria deixar que o meu estado de perturbação afogasse todas as minhas esperanças. Não a tendo visto em Seteais, retornei, então, à Lawrence, mas tudo o que eu obtive foram más noticias: a família Castro Gomes tinha partido para Mafra para depois voltarem a Lisboa.
             Nessa altura, sim, eu fiquei vencido, pois todo o trabalho que tivera para rever a minha diva não serviu de nada. O meu sentimento de saudade e de mágoa ia tomando forma no meu corpo, acabando por preenchê-lo totalmente, e eu só queria voltar ao Ramalhete, pois daí seria mais fácil reencontrar aquela figura linda, de olhos negros, que me mantinham cativo desde a primeira vez em que fui surpreendido pela sua encantadora visão.
                                                                   Carlos da Maia








Juliana Pereira, 11º E1











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