Na visita de estudo da turma do 12º C3 à Casa Fernando Pessoa, no dia 27 de outubro, de 2022, alguns alunos, junto ao rio Tejo, declamaram o poema de Ricardo Reis "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio".
O poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" é o mais representativo da filosofia de vida deste heterónimo. O eu lírico, mostrando consciência da efemeridade da vida e da impossibilidade de voltar a vivê-la, uma vez que o “fado” tudo controla, convida Lídia a enlaçarem as mãos, ficando sentados à beira do rio e entregando-se à fruição amorosa serena, uma vez que a vida é
breve. Contudo, logo a seguir, diz à destinatária para desenlaçarem as mãos, pois é preciso evitarem os grandes
desassossegos para escaparem à dor da separação, quando um deles morrer. Faz, então, um convite à fruição amorosa tranquila, espiritual, evitando os
excessos do amor físico. É valorizada a máxima do “carpe diem”, colhendo-se o “perfume” do momento e evitando-se o conhecimento das realidades dolorosas.
Na conclusão do poema, é apresentada a justificação para o modelo de
vivência amorosa defendido pelo poeta: se um deles morrer antes, o outro não
terá que sofrer por isso, uma vez que viveram um amor inocente, sem excessos.
A
frequência do imperativo e da primeira pessoa do presente do conjuntivo, com sentido exortativo, põem em evidência a função apelativa da linguagem, que
predomina ao longo do poema. O sujeito poético procura “converter” a mulher
amada à sua filosofia de vida, julgando construir, assim, a dois, a felicidade
possível. No final, chega à conclusão que a melhor opção de vida consistirá na contenção
estoica das emoções (recusando-se o prazer) para se escapar ao sofrimento. O eu lírico mostra consciência intensa da brevidade de
tudo e da perpétua ameaça do tempo que corre, adotando uma ética da
aceitação total em relação às realidades da vida que não se podem alterar.
No poema, é possível estabelecerem-se analogias com a poesia do ortónimo, por exemplo no facto de o sujeito poético sobrepor a razão à emoção, estabelecendo uma norma de vida que obedece a uma ética calculada, ou seja, organizada intelectualmente. As próprias ideias do “rio”, como símbolo de passagem da vida e da
infância como idade ideal estão presentes na poesia do ortónimo. Outra semelhança verifica-se no facto de os versos serem dirigidos a uma mulher (em Fernando Pessoa, essa relação é expressa, por exemplo, nos versos “Quero-te para sonho / não para te amar”, correspondendo à expressão de um amor platónico). Por outro lado, a carência de ideias dogmáticas (a ausência da fé), revelada nos versos “(...) não cremos em nada, / Pagãos inocentes da
nossa decadência”, pode comparar-se com o verso do ortónimo “Não procures nem
creias: tudo é oculto!”.
Carla Luvambano, Letícia Fernandes, e Ariana dos Reis, 12º C3
novembro de 2022
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