segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

 



                Na visita de estudo da turma do 12º C3 à Casa Fernando Pessoa, no dia 27 de outubro, de 2022, alguns alunos, junto ao rio Tejo, declamaram o poema de Ricardo Reis "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio". 
     Ricardo Reis é um dos heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa, tendo sido imaginado de relance pelo poeta em 1913, quando lhe veio à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Nasceu no Porto, estudou num colégio de jesuítas, formou-se em medicina e, por ser monárquico, expatriou-se, espontaneamente, após a vitória da revolução republicana, em 1910, indo viver no Brasil.
            O poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" é o mais representativo da filosofia de vida deste heterónimo. O eu lírico, mostrando consciência da efemeridade da vida e da impossibilidade de voltar a vivê-la, uma vez que o “fado” tudo controla, convida Lídia a enlaçarem as mãos, ficando sentados à beira do rio e entregando-se à fruição amorosa serena,  uma vez que a vida é breve. Contudo, logo a seguir, diz à destinatária para desenlaçarem as mãos, pois é preciso evitarem os grandes desassossegos para escaparem à dor da separação, quando um deles morrer. Faz, então, um convite à fruição amorosa tranquila, espiritual, evitando os excessos do amor físico. É valorizada a máxima do “carpe diem”, colhendo-se o “perfume” do momento e evitando-se o conhecimento das realidades dolorosas.
            Na conclusão do poema, é apresentada a justificação para o modelo de vivência amorosa defendido pelo poeta: se um deles morrer antes, o outro não terá que sofrer por isso, uma vez que viveram um amor inocente, sem excessos.
            A frequência do imperativo e da primeira pessoa do presente do conjuntivo, com sentido exortativo, põem em evidência a função apelativa da linguagem, que predomina ao longo do poema. O sujeito poético procura “converter” a mulher amada à sua filosofia de vida, julgando construir, assim, a dois, a felicidade possível. No final, chega à conclusão que a melhor opção de vida consistirá na contenção estoica das emoções (recusando-se o prazer) para se escapar ao sofrimento. O eu lírico mostra consciência intensa da brevidade de tudo e da perpétua ameaça do tempo que corre, adotando uma ética da aceitação total em relação às realidades da vida que não se podem alterar. 
            No poema, é possível estabelecerem-se analogias com a poesia do ortónimo, por exemplo no facto de o sujeito poético sobrepor a razão à emoção, estabelecendo uma norma de vida que obedece a uma ética calculada, ou seja, organizada intelectualmente. As próprias ideias do “rio”, como símbolo de passagem da vida e da infância como idade ideal estão presentes na poesia do ortónimo. Outra semelhança verifica-se no facto de os versos serem dirigidos a uma mulher (em Fernando Pessoa, essa relação é expressa, por exemplo, nos versos “Quero-te para sonho / não para te amar”, correspondendo à expressão de um amor platónico). Por outro lado, a carência de ideias dogmáticas (a ausência da fé), revelada nos versos “(...) não cremos em nada, / Pagãos inocentes da nossa decadência”, pode comparar-se com o verso do ortónimo “Não procures nem creias: tudo é oculto!”.
             Finalmente, tanto Fernando Pessoa ortónimo como Ricardo Reis têm em comum o paganismo, Reis, por exemplo quando diz “a vida vai para lá dos deuses”, ou “Pagãos inocentes...” e Fernando Pessoa, quando, numa carta a Adolfo Casais Monteiro, fala do seu “paganismo essencial”.

 

Carla Luvambano, Letícia Fernandes, e Ariana dos Reis, 12º C3

novembro de 2022

 

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