A fotografia apresentada mostra a uma divisão da Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique. Esta divisão corresponde ao antigo quarto das crianças, da irmã, do cunhado e dos sobrinhos de Fernando Pessoa, espaço que foi transformado e no qual apenas hoje constatamos a existência de uma cómoda (original) e folhas de papel soltas à sua volta (representativas da diversidade de poemas e obras que o poeta escreveu).
A razão da escolha desta imagem prendeu-se com o facto de, para mim, esta ter sido uma das salas que mais me impressionou na visita realizada à Casa Fernando Pessoa. Comparada com todas as outras salas existentes nos restantes pisos, tanto pela combinação de cores, luz e sons como, também, pela forma como estavam expostas, esta transportou-me para um lugar de tranquilidade, de imaginação e criação. É, sem dúvida, um lugar onde “se respira” literatura, cruzando uma infinita criação literária e diversidade de leitura.
A cómoda, original de Pessoa, representa a diversidade e riqueza da sua escrita; pode, até, levar-nos a imaginar que as gavetas compõem o interior do escritor, bem recheadas com tudo o que ele representa, tudo o que ele foi, tudo o que escreveu e tudo o que idealizou (poeta, tradutor, publicitário, astrólogo, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português e muito mais).
Esta sala tenta celebrar aquele que foi o dia mais importante para Pessoa. Representa o “nascimento” das suas 3 principais personagens (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis), principalmente de Alberto Caeiro, que ele considerava ser o mestre deles todos. Para ele, Alberto Caeiro é o ser mais perfeito, porque é o homem do campo, que é sensacionista, conhece o mundo usando os 5 sentidos e tenta não questionar a realidade. Ele considera que é o mundo exterior que nos pode levar à felicidade, prestando a maior das atenções a todos os elementos que o rodeiam, encantado com o pormenor, tratando cada coisa pela sua individualidade e não pela sua coletividade.
E, portanto, o dia importante de Pessoa foi o "Dia Triunfal" e a provar este facto temos o conteúdo da carta que escreveu ao seu amigo Adolfo Casais Monteiro, Diretor da Revista "Presença", no último ano de sua vida. Nela, ele desvenda, pela primeira vez, todas as respostas às dúvidas que existiam sobre o seu processo de escrita e põe a nu todas as 136 personagens criadas, descrevendo esse dia como um fenómeno inexplicável em que, de repente, pega numa série de folhas em branco e numa caneta, debruçando-se, exatamente, sobre esta mesma cómoda, e diz que foi naquele momento que tudo aconteceu, escrevendo sem saber o que estava a escrever, como se estivesse em transe.
E é naquela confusão de folhas espalhadas pela parede e teto daquele espaço que se homenageia aquele momento quase inesperado em que Pessoa, simplesmente, começou a escrever e a escrever sem parar.
Resumindo e, aproveitando as próprias palavras do poeta, naquela sala vemos representado o “Dia Triunfal" da criação dos seus heterónimos ("Num dia em que finalmente desistira — em 8 de Março de 1914, acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé") e, assim, naquela cómoda, terá escrito ou terminado parte dos seus mais famosos textos.
Bruna Sofia de Oliveira Afonso, 12º C3
novembro de 2022
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