quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Lembranças Despertadas pelo Toque de um Sino

 


                                   

Poema “Ó sino da minha aldeia”


Ó sino da minha aldeia
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

Fernando Pessoa

        Durante a visita de estudo à casa Fernando Pessoa, realizada pela turma do 12º C3, da Escola Secundária Ferreira Dias, no dia 27 de outubro, um dos pontos de paragem foi a casa com a seguinte morada: n°4, do Largo de São Carlos, 4º andar, esquerdo, em Lisboa. Esta casa, situada entre o teatro de São Carlos e a igreja dos Mártires, no Chiado (ver imagem), corresponde ao local onde Pessoa nasceu e cresceu, sendo essa a razão pela qual optamos pela escolha do poema " Ó sino da minha aldeia", que terá sido inspirado no toque do sino desta igreja junto à qual muitas vezes o poeta terá passado.
        Este poema, escrito por Fernando Pessoa, foi publicado pela primeira vez no ano de 1914, na revista “A Renascença”. Nele, Pessoa revela os seus sentimentos genuínos, ao lembrar-se de um passado perdido, sendo considerado, por isso, uma representação de uma das suas temáticas, a nostalgia da infância.
        A leitura do poema levou-nos à reflexão da representatividade do "sino". Logo, no primeiro verso, é mencionado o sino da sua aldeia, por isso, acreditamos que o sino representa a dolorosa passagem do tempo e que a "aldeia" poderá simbolizar o espaço da infância, onde Pessoa nasceu e cresceu. Nas seguintes estrofes, o sujeito poético conta o impacto que o sino tem no seu estado de espírito, referindo que o seu simples toque estimula a sua memória, fazendo-lhe recordar a sua infância, despertando no seu interior uma certa melancolia e saudade desse tempo. Para além disso, faz, também, de forma clara, a distinção entre dois sinos: o sino que soa no espaço exterior, sendo ele o que ouve ao passar pela Igreja Mártires, e o sino que soa no seu espaço interior, isto é, na sua alma.
     Em suma, através do poema "Ó sino da minha aldeia" conseguimos ver a transparência dos sentimentos vividos por Pessoa: a saudade e a tristeza da perda de um tempo irrecuperável, onde o sujeito poético experimentou momentos de pura felicidade e despreocupação, em oposição ao presente, onde sente que é consumido pela angústia e extrema preocupação.

Beatriz Nascimento e Catarina Lopes, 12º C3
novembro de 2022

Sem comentários:

Enviar um comentário