segunda-feira, 23 de maio de 2016

"Os Maias", Carta de Ega a Cohen


Trabalho de Português – Carta de Ega a Cohen

 

Bons dias,

  Espero que, nesta tarde de verão, o senhor e a sua mulher estejam descontraidamente sentados nas suas cadeiras de jardim, nas traseiras da vossa moradia em Londres, e aproveitem, talvez, os últimos raios de sol do dia, e que estes lhe consigam aquecer o gélido e pérfido coração.

 Desejo que guarde bem a sua judia, pois nem os mais terríveis filisteus a aceitariam nos seus templos, visto que a malvadez e perversidade dela excedem até as dos que mataram Cristo. A beleza e sedução encobrem, inicialmente, a sua verdadeira essência, até que lhe convenha. Quando tiver obtido o seu objetivo, o animal descama a sua preciosa pele e mostra ao mundo quem realmente é: uma verdadeira cobra, tão vil e odiosa quanto o réptil.

Mantenha-a debaixo da sua mão, bem segura, embora ela seja demasiado cobarde para alguma vez sair dos seus braços, mesmo sendo à força que a prende. Este facto demonstra, também, a sua falta de romantismo, senhor Cohen, visto que a única maneira que tem para conquistar uma mulher é pelo punho, enquanto eu, um aparente fracasso filosófico, consegui aliciar a sua tão amada senhora com as minhas capacidades intelectuais e romanescas. Deveria sentir, também, um grande embaraço por este ardente romance ter perdurado durante tantos meses debaixo do seu próprio teto, nos cantos e esquinas da sua própria habitação, sem nunca ter tido a perspicácia de se aperceber do caso. 

  Com isto, despeço-me e desejo que o senhor e a sua mulher continuem juntos para a eternidade, duas almas penadas a arder no inferno, unidos pelos vossos defeitos e permanecendo acorrentados à vossa ignorância, pagando pelos males que fizeram durante a vida.

Cumprimentos,

João da Ega

 

Leonor Mesquita nº15 11ºC1









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