segunda-feira, 30 de maio de 2016

Carta de Afonso da Maia ao seu neto

Lisboa, 15 de maio de 1877


     Meu querido neto,
           
            Quando leres esta carta, provavelmente já não estarei cá. Terei partido para um lugar diferente daquele em que vivemos, onde as pessoas não vivem da ociosidade e da corrupção, da mentira e da fraqueza. Enfim, num mundo sem a nossa sociedade.
            Após a morte do meu adorado filho Pedro, uma enorme desilusão apoderou-se de mim. Sofri, em silêncio, os anos passados na sua ausência, desde que ele se casou contra a minha vontade e partiu para Itália, com a tua mãe, mais conhecida como a “negreira”. A sua educação superprotetora, a morte de sua mãe e a fuga de Maria com o italiano foram os motivos da sua desgraça. Quando Maria o abandonou, o meu querido filho veio pedir-me perdão e trouxe-te com ele. Observando os teus olhos, iguais aos dele, ergui-te nos meus braços e percebi que eras a minha responsabilidade, que tinha de cuidar de ti, proporcionando-te aquilo que não consegui proporcionar no passado ao teu pai: uma boa educação, à inglesa.
            Entretanto, os anos foram passando, cresceste, fizeste-te um verdadeiro homem, lutaste pelos teus desejos e ambições, tiveste muitos romances e aventuras pelo mundo, viveste a tua vida como sempre idealizei, até ao momento, em que te apaixonaste pela tua própria irmã, afundando-te na tua desgraça. Pedi que te seguissem, pois quis acabar com esta angústia, que a cada dia era maior. Noites passadas fora de casa. Noites passadas com a tua irmã. Noites passadas a fazer a cama onde hoje te deitas.
            A minha jornada está próxima do fim, mas a tua não, Carlinhos, ainda tens muita vida pela frente. Nunca te esqueças da educação que tiveste, de todas as pessoas que te acompanharam e apoiaram, de mim, que não desisti de ti, quando o teu pai te deixou nos meus braços. Ainda existe tempo para mudar o futuro, para evitar erros e tragédias. Ainda existe tempo para contares a verdade a Maria Eduarda. Ainda existe tempo, e o tempo cura tudo.

Teu avô: Afonso da Maia

Rita Pereira, 11º C1


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