Ode à Literatura
O cheiro do papel preenche um vazio em mim
Ahh, conhecimento ancestral possui o meu ser!
Sinto as palavras dos outros como minhas
Tão próximas do meu próprio entendimento!
Sinto-as, as palavras, os versos, a métrica rigidamente planeada segundo as
regras de alguém,
As quadras, as vírgulas, as reticências... como não amar a escrita!
Ó grandes nomes do passado, Dantes e Homeros deste mundo, revelem-se!
Pessoa, Camilo, Florbela, Torga, reencarnem nestes corpos indiferentes e
dormentes!
Mostrem-nos a arte pela arte!
O fogo eterno dessas almas cansadas e desesperadas!
Toda uma geração sem inspiração, sem nada que os apegue a este mundo
Apenas o dinheiro, o bom do dinheiro,
A sociedade, o bem parecer, a fama,
Já nada do que importa importa!
Já nada do que preenche completa esta gente!
O silicone e o botox entopem tudo, meu caro,
Só mais uma injeção, diz a mulher do empresário que ganha milhões,
Milhões que pagam a casa e o carro,
O bronzeado falso e as plásticas,
As festas e as estreias,
Os vestidos e os sapatos,
O sorriso branco e as extensões,
Enfim, toda a hipocrisia e pobreza de espírito, essa banalidade tão própria do
agora!
E o botox, ai! O botox!
Só mais uma injeção diz ela!
Os jovens já não leem poesia!
Tudo se resume a uma frase do facebook!
Filosofias inteiras de vida resumidas numa frase!
Onde estão os clássicos? Amor de Perdição, A Bíblia da Humanidade, Os Maias,
Viagens Na Minha Terra, Os Lusíadas?
Onde está a paixão?
Ahhh, se eles soubessem a alegria do folhear das páginas de um livro
empoeirado!
O cheiro da tinta impressa nas folhas, a textura da capa nestes dedos cansados.
Cada capítulo uma jornada nova que restitui a juventude a quem lê!
Nada nos torna jovens de novo como a leitura!
Jovens, mas sábios, o que querer mais desta vida que nos prende?
"A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida", já dizia o grande
Pessoa!
Como quer esta gente saber que foi Pessoa a escrever tais máximas se não lê?
Quantos nunca entraram numa livraria, numa biblioteca?
Essas catadupas de livros que transportam as mentes do mundo!
Eia Wilde!
Eia Bukowski!
Eia Thomas Mann!
Eia Kafka!
E eia, hup-lá, um grande hup-lááá aos nossos grandes nomes!
A Eça de Queirós, Antero de Quental, Gil Vicente, Camões, Camilo, Garrett,
Virgílio Ferreira, Saramago!
O grande Saramago que andava quilómetros para poder ler as grandes obras, que
grande homem!
Este, sim, sentia o amor dos livros!
"A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida", dizia Pessoa!
E, no entanto, ironicamente,
Ahh...É a literatura, sim a literatura,
Que reflete tudo aquilo que nos esforçamos tanto por ignorar.
Inês Simão, nº 18, 12º C1
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